" A mulher do médico levantou-se e foi à janela. Olhou para baixo, para a rua coberta de lixo, para as pessoas que gritavam e cantavam. Depois levantou a cabeça para o céu e viu-o todo branco, Chegou a minha vez, pensou. O medo subito fê-la baixar os olhos. A cidade ainda ali estava. "
Trecho do livro Ensaio sobre a Cegueira, de José Saramago.
"Uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos."
Ensaio sobre a Cegueira é um dos melhores livros que já li na vida. É um misto de angústia, aflição e desespero, um livro francamente terrível, porém cativante, que prende o leitor do começo ao fim, não há como parar de ler. Tudo começa com um dia normal na cidade, um cena que faz parte do cotidiano de milhares de pessoas. Um motorista, parado no sinal, é subitamente encoberto por uma treva branca nos olhos. É o começo de tudo. Logo, todos os que estavam ao seu redor são contaminados. Pessoas são resguardadas em quarentena, e é ali que a verdadeira face da sociedade se mostra, só num mundo de cegos é que as coisas serão o que verdadeiramente são. É um livro sobre a ganância e abstinência moral, a profecia e misticismo compensatórios, sobre a ética, sobre o amor, sobre a solidariedade. Saramago nos faz pensar, nos faz reparar no significado das coisas, dos sentimentos, da nossa própria vida e da vida de quem está ao nosso redor.